Atualmente até o incansável otimismo do brasileiro anda meio cansado. Não sem razão.
Dados do Fundo Monetário Internacional mostram que o crescimento médio do PIB do Brasil foi de aproximadamente 2.5% entre o período de 2004 a 2014, número abaixo de países emergentes como Indonésia, India e Turquia.
Com perspectivas de crescimento tão (literalmente) desanimadoras, não só do PIB, como de indústrias viscerais a um a país como energia, construção civil, infraestrutura, só nos resta seguir em frente e tentar fazer desse momento de crise uma nova oportunidade especialmente para pequenas e médias empresas do setor privado.
O crescimento sobre alicerces sólidos requer acumulação de capital físico (máquinas, equipamentos, infraestrutura), intelectual (quantidade e capacitação de trabalhadores disponíveis) e o aumento da produtividade, que é a eficiência com que os trabalhadores utilizam o capital físico disponível para gerar o produto final.
Portanto, tempo de desaceleração é hora de redefinir estratégias e metas para empresas, identificar necessidades e novas oportunidades de mercado, de buscar novos produtos, investir em bens de capital, criar novas fontes de renda e meios mais eficientes de distribuição para o consumidor final. Hora de treinar e motivar equipes, de investir fortemente em maior conhecimento técnico aplicável. Tempo de também melhorar a eficiência de plantas fabris, de reduzir custos, de implantar ou aprimorar governança corporativade, de reorganizar e rever procedimentos e rotinas, de conferir a situação financeira e legal da empresa, dos contratos em vigor, e da efetiva aplicação das regras de compliance e anti-courrupção de toda cadeia. Empresas mais bem preparadas estarão melhores posicionadas para firmar parcerias estratégicas, obter melhores taxas de juros e ganhar participação em seus mercados. Ainda, com a casa em ordem, muitas empresas podem se tornar bons alvos para investimentos estrangeiros.
Sobre essa última hipótese, aliás, com o câmbio nas alturas, os estrangeiros, notadamente os norte-americanos, os europeus e os chineses, podem adquirir os mesmos ativos, com menos capital. Isso sem falar em empresas que precisarão de sócios para consolidar crescimento em mercados estratégicos. Ou seja, além de encontrarem barganhas, o que vale para qualquer investidor em momentos de crise, inclusive o local evidentemente, os estrangeiros podem também ganhar com o câmbio. Em 12 meses, a valorização do dólar frente ao Real chegou a quase 30%.
E para aqueles que consideram uma eventual reorganização societária, tempo de desaceleração é o melhor momento para identificar irregularidades, lidar com possíveis contingências e passivos legais de seus negócios, bem como criar planos de ação concretos para eliminação ou minimização de potenciais pontos críticos identificados. Em outras palavras, é tempo de se preparar para uma mesa de negociação sabendo exatamente quais são as suas fragilidades, não permitindo que o comprador/investidor venha a depreciar o valor do negócio, talvez até por razões alheias ao core business, ou sabendo exatamente o quanto pode ser descontado.
Obviamente que não se pode dizer que será um bom ano para investimentos estrangeiros ou fusões e aquisições. Tampouco que o ambiente político esteja favorável. A incredibilidade dos investidores com o país, o rebaixamento das agencias classificadoras à Petrobras e ao país recentemente, a diminuição do crédito e do acesso geral da massa consumidora, os juros e a inflação em alta, são indiscutíveis gargalos.
Mas ao invés de lamentar-se e só focar nos aspectos negativos desse ciclo é mais produtivo que o setor privado tome as rédeas, e aos poucos colabore com a retomada do país que sempre teve vontade e meios de ser um país do futuro. Ainda que esse futuro esteja sendo assombrado pelo passado e desgastado pelo presente.
Felizmente junto com o otimismo, tem-se a criatividade brasileira, e um crescente número de profissionais bem preparados e com objetivo de prosperar, a quem as agências classificadoras de risco dariam muitos “A”s.
Juliana G. Meyer Gottardi is partner at Pacheco Neto Sanden Teisseire Law Firm.
Carla Ricchetti – Oficial de Investimento do Interntional Finance Corporation (IFC) – Banco Mundial. Washington – USA.